domingo, 7 de dezembro de 2008

ACASP no Jornal O Estado de São Paulo.


O anjo e o demônio no concerto da Orquestra Sinfônica de SP
Por: Caldeira Filho
Fonte: Jornal O Estado de São Paulo – Domingo – 04 de Junho de 1978.


Orquestra Sinfônica de São Paulo – Programa: Marlos Nobre, Convergências (Abertura Sinfônica); Paganini, Concerto nº 1 para violino e orquestra (Allegro maestoso, Adágio expressivo, Rondó allegro spirituoso), solista Ruggiero Ricci. Schubert, Missa nº1 para vozes solistas – sopranos Neyde Thomas, e Dilza Garcia, contralto Mariângela Réa, tenores Eduardo Álvares e Josué Moreno Naverrte, baixo Zuinglio Faustini; Associação Coral Adventista de São Paulo; Maestro preparador: Flavio Araújo Garcia. Regente: Maestro Eleazar de Carvalho. 15.5.78 – Teatro Cultura Artístca.
O grande número da noite foi Ruggiero Ricci (1920), o eminente violinista norte-americano de ascendência italiana que foi o menino prodígio, aluno de Persinger e atualmente estrela brilhantíssima da pequena constelação dos grandes violinistas excepcionalmente dotados. O instrumento que utiliza, informa o programa, é um Guarnieri “del Gesú”, de 1734, que pertenceu ao célebre violinista Hubermann, e, segundo os especialistas, um dos mais perfeitos instrumentos produzidos pela Escola de Cremona. Assim, um virtuose, considerado na estréia (Nova York, 1928, aos 8 anos, portanto) “o mais precoce gênio musical desde Mozart”; um instrumento de um autor – Paganini (1782-1840) – realmente genial no seu gênero e, segundo alguns, o maior gênio violinístico de todos os tempos, constituíram a oferta memorável da Orquestra Sinfônica de São Paulo ao público da capital. As expectativas foram plenamente satisfeitas, e se mais não se diz é porque os objetos de apreciação apresentados no concerto ultrapassam os limites do judicativo e do analítico para situar-se no plano da pura admiração. Muito aplaudido, Ricci tocou vários trechos – violino solo – extraprograma.
Eleazar de Carvalho e sua orquestra sinfônica reafirmaram-se como altos valores na execução de todo o programa. Foi este iniciado com “Convergências” ou “Divergências”? O início da paca apresenta temática tratada em movimento contrário, e daí a pergunta. O discurso decorre depois em nutrida textura, largamente apoiada na percussão. Muito barulho, por vezes. Mas a orquestra canta a seguir pela voz dos violoncelos flautas e demais instrumentos; avoluma-se a sonoridade e fortes oposições tímbricas mantêm o interesse da expansiva linguagem orquestral do autor, com largo uso e, não raro, abuso dos fortes e fortíssimos.
Na segunda parte, passadas as incríveis proezas paganinescas – resultado de um pacto com o diabo, segundo a lenda – a Missa do angélico Schubert, obra complexa mas nem por isso complicada, convincente sem demagogia e sempre expressiva graças ao veio melódico, ora aparente, ora a correr oculto por entre as raízes subterrâneas da harmonia, da instrumentação e da forma, vivificado o todo com seu inocente lirismo.
O grande conjunto da Associação Coral Adventista de São Paulo atuou na apresentação da peça com a necessária homogeneidade, resultante da coesão, disciplina e demais fatores técnicos tão bem aproveitados pelo seu preparador maestro Flavio Araújo Garcia. Assinala-se a atuação dos solistas já mencionados, os quais deram cabal desempenho às respectivas partes. E ao maestro Eleazar de Carvalho as honras maiores pelo êxito da manifestação tão particularmente valiosa para a vivência musical da gente paulistana.

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